letra
Navalha
João Bosco e Aldir Blanc
Teu sorriso é uma navalha
Que abre o meu coração
O sangue pelo peito
É do Cristo na Paixão
Ai, eu fui crucificado
Nos cravos do teu amor
Não me lembro de outra coisa
Que me causasse tanta dor
Mesmo pregado na cruz,
Sinto falta da navalha
Sou escravo, Deus me valha
Daquele raio de luz
Pra Que Pedir Perdão?
Moacyr Luz e Aldir Blanc
Se é pra recordar dessa maneira
Sempre causando desprazer,
Jogando fora a vida em mais uma bebedeira,
Ó, sinceramente, é preferível te esquecer
Eu te prometi mundos e fundos
Mas não queria te magoar
Eu não resisto aos botequins mais vagabundos
Mas não pretendia te envergonhar
Marquei bobeira…
Vi muitas vezes o destino
Ir na direção errada
E a bondade virar completo desatino,
A carícia se transformando em bofetada
Ah, eu sou rolimã numa ladeira
Não tenho o vício da ilusão
Hoje eu vejo as coisas como são
E estrela é só um incêndio na solidäo
Se eu feri teu sonho em pleno vôo,
Pra que pedir perdão se eu não me perdôo?
Pretinho Básico
Moyseis Marques e Aldir Blanc
É meu pretinho básico e
Eu tô quase que de quatro
Porque é muito amô!
Marrento, banca o sádico...
Não entro nesse barco, não sinhô!
Os olhos de menino
com um brilho de assassino
Ancoraram no meu peito
E o lindo trejeito moleque me fisgou!
Me faz cafuné, cafunga o meu pé,
me diz que vai durar pra sempre...
(Meu coração ouve a razão:
— não vai, não!)
Então, tá! Sou mulhé
Pra guentá o tranco do Poeta:
"Infinito enquanto dure"
Pretendo curtir, morrendo de rir,
Até que o caso e a casa caiam
Quero viver, até o fim,
é bom pra mim, pra você,
Pra valer
O meu futuro a Deus pertence
e eu vivo no presente, Oxalá!
Meu destino entrego aos rios
do meu Orixá…
Deus me guia
e eu vivo no presente, Oxalá!
Meu destino entrego aos rios
do meu Orixá
Flores em Vida (Pra Nelson Sargento)
Aldir Blanc e Moacyr Luz
Ele é um samba de quadra da Mangueira
Que Deus letrou,
Dá aula sobre a cidade
E nessa universidade
É o reitor
Como dizia outro Nelson
Despedida
Não dá nenhum prazer
Pra parar com essa mania
De sofrer
Trouxe aqui
Flores em vida
Prá você
Se a paixão do momento engana
Que é bonita
O Nelson Sargento diz que acredita
Essa é a grandeza que o samba nos legou
Em cada tristeza erguer nosso copo ao humor
Se o riso é mais do que do que o cansaço
Mangueira cabe em nosso abraço
E toda a dor desse mundo
enfeita a nossa fantasia…
Sargento apenas no apelido
Guerreiro, negro dos Palmares,
Nelson é o Mestre Sala dos Mares
Singrando as águas da Baía
O Mestre Sala dos Mares
João Bosco e Aldir Blanc
Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como navegante negro
Tinha dignidade de um mestre sala
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto, pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas
Rubras cascatas jorravam das costas
Dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
E a exemplo do feiticeiro gritava então
Glória aos piratas, às mulatas, às sereias
Glória à farofa, à cachaça, às baleias
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais
Salve o navegante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais
O Ronco da Cuíca | De Frente Pro Crime
João Bosco e Aldir Blanc
Roncou, roncou
Roncou de raiva a cuíca,
Roncou de fome
Alguém mandou
Mandou parar a cuíca
É coisa dos home
A raiva dá pra parar, pra interromper
A fome não dá pra interromper
A raiva e a fome é coisa dos home
A fome tem que ter
Raiva pra interromper
A raiva e a fome de interromper
A fome e a raiva é coisa dos home
É coisa dos home
É coisa dos home
A raiva e a fome
Mexendo a cuíca
Vai ter que roncar
•
Tá lá o corpo estendido no chão
Em vez de rosto a foto de um gol
Em vez de reza a praga de alguém
E um silêncio servindo de amém
O bar mais perto depressa lotou
Malandro junto com trabalhador
Um homem subiu na mesa do bar
E fez discurso pra vereador
Veio camelô vender
Anel, cordão, perfume barato
Baiana pra fazer pastel
E um bom churrasco de gato
Quatro horas da manhã
Baixou o santo na porta bandeira
E a moçada resolveu
Parar, e então...
Tá lá um corpo estendido no chão
Em vez de rosto a foto de um gol
Em vez de reza a praga de alguém
E um silêncio servindo de amém
Sem pressa foi cada um pro seu lado
Pensando numa mulher ou num time
Olhei o corpo no chão e fechei
Minha janela de frente pro crime
Veio camelô vender
Anel, cordão, perfume barato
Baiana pra fazer pastel
E um bom churrasco de gato
Quatro horas da manhã
Baixou o santo na porta bandeira
E a moçada resolveu
Parar, e então...
Tá lá um corpo estendido no chão
Saindo à Francesa
Moacyr Luz, Aldir Blanc e Luiz Carlos da Vila
Gordo
Ligaram pra mim sobre a hora do entrerro
Foi trote isso tudo não passa de um erro
Me encontra com riso de sempre no bar
Que quero esclarecer esse mal entendido
O gordo não falta eu tô meio fudido
A gente vai ter muito que conversar
Coisa e tal patati patata
Gordo
Eu hoje só volto pra casa bem tarde
O papo vai ser do Romário ao Ecad
Passando muito mulher que sem elas a gente não vive
E discutir a importância da velha amizade
Redimensionar a palavra saudade
E nela que tudo que amei sobrevive
E quando eu for ao banheiro dar uma mijada
Saí sem se despedir
Sem boa noite sem nada
O Gordo maluco quem mandou me abandonar
No dia seguinte vou telefonar
E xingo quem te pariu
O palavrão fica so na intenção
Alguém vai dizer que meu Gordo dormiu
E vou te procurar num montão de espelunca
E só descansar no dia de São Nunca
Se Deus confessar que meu Gordo dormiu... Dormiu!
E vou te procurar num montão de espelunca e só descansar
No dia de São Nunca se Deus confessar que meu Gordo dormiu
Imperial
Wilson das Neves e Aldir Blanc
Venha
Como um romeiro volta aos pés da Penha
Como um iniciado sabe a senha
Você eu, dois lampejos de mato e cristal
Beijos, a lenha antiga ardendo na fogueira,
Balões cruzando o céu de Madureira,
A Serra em nós nos dizendo que é imperial...
Herdeira,
As cintilações da África primeira
Bordão cinto prata sobre a mãe solteira, ai, ai, ai
O umbigo é a chave da clave de sol
Bandeira,
Como o carnaval em plena quarta-feira,
Lua branca em neve na tamarineira, ai, ai, ai
Verde mar rasgado em faca de farol
Mandingueiro
Moacyr Luz e Aldir Blanc
Num samba assim mandingueiro
É que eu divido bem o tempero
E é bom dosar o ingrediente:
Um dente, sal menos louro,
Eu não entrego o ouro e é olé
No gringo
Brincar com eu brinco
É armar um rolo,
Aí meto o couro pra valorizar
O que é brasileiro
Porque só quem gira a pé no morro
Sabe o que eu corro por aí
Pra essa peteca não cair
Canto qualquer parada
Mando: — não tem errada!
Porque só quem gira a pé no morro
Sabe o que eu corro por aí
Pra essa peteca não cair
Meu samba não vai cascatear,
Eu digo então tá e dou o plá!
Quer ver esse molho desandar?
Põe muito louro
E blá-blá-blá
Medalha de São Jorge
Moacyr Luz e Aldir Blanc
Fica ao meu lado, São Jorge guerreiro
Com tuas armas, teu perfil obstinado
Me guarda em ti, meu Santo Padroeiro
Me leva ao céu em tua montaria
Numa visita a lua cheia
Que é a medalha da Virgem Maria
Do outro lado, São Jorge Guerreiro
Põe tuas armas na medalha enluarada
Te guardo em mim, meu Santo Padroeiro
A quem recorro em horas de agonia
Tenho a medalha da lua cheia
Você casado com a Virgem Maria
O mar e a noite lembram na Bahia
Orgulho e força, marcas do meu guia
Conto contigo contra os perigos
Contra o quebranto de uma paixão
Deus me perdoe essa intimidade
Jorge me guarde no coração
Que a malvadeza desse mundo é grande em extensão
E muita vez tem ar de anjo e garras de dragão
Cravo e Ferradura
Cristóvão Bastos, Aldir Blanc e Clarisse Grova
Primeiro foi um som leve
De peneira peneirando,
O mar de ideias de um louco,
A água dentro do coco
Foi crescendo entre palmeiras
E tambores batucando
Um balbucio, um rugido,
Um som de tragédia e circo,
Um som de linha de pesca,
Som de torno e maçarico
Veio um som de escavadeira,
Bate-estaca, britadeira,
Um som que machuca e lanha,
Um som de lata de banha,
Som de caco, som de tralha,
Era um som de mutilados
Quebrando gesso e muleta,
Um som de festa e batalha
Ah, era um som que me orgulhava,
Som de ralé e gentalha,
Era o som dos prisioneiros,
Som dos exús catimbeiros,
Ai, era o som da canalha
Trovão, forja, baticum,
Som de cravo e ferradura:
— Dez mil cavalos de Ogum!
Esse é o som da minha terra
Som de andaime despencando,
De encosta desmoronando,
De rios violentando
As margens do meu limite
Samba, samba, samba,
Pulsas em tudo que existe,
Vazas se meu sangue escorre,
Nasces de tudo o que morre
O Bêbado e a Equilibrista
João Bosco e Aldir Blanc
Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos...
A lua
Tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel
E nuvens!
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco...
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Pra noite do Brasil
Meu Brasil...
Que sonha com a volta
Do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora...
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias
E Clarices
No solo do Brasil...
Mas sei, que uma dor
Assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança...
Dança na corda bamba
De sombrinha
E em cada passo
Dessa linha
Pode se machucar...
Azar!
A esperança equilibrista
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar...