letra
Bonifácio
Mário Gago
Bonifácio estava sentado num canto
Perto de um barranco
Que desmoronou
Embolou a cabeça com os pés
E foi parar no hospital
Não fala coisa com coisa ele não tá legal
Agora em seu pensamento ele é milionário
É duro na queda e não faz comentários
Pra não se lembrar do que aconteceu
Bonifácio pirou
Mas não é bobo se recupera a memória
Vai ficar pobre de novo
Bonifácio pirou
Mas não é bobo
Se recupera a memória
Vai ficar pobre de novo
E galera vibra porque Bonifácio é maneiro
Na sua cama na grama
Dorme o dia inteiro
E a galera vibra
Porque Bonifácio é maneiro
Na sua cama na grama dorme com seus companheiros
Estrela de Madureira
Acyr Pimentel e Cardoso
Brilhando num imenso cenário
Num turbilhão de luz, de luz
Surge a imagem daquela
Que o meu samba traduz
Ah...
Estrela vai brilhando
Mil paetês salpicando
O chão de poesia
A vedete principal
Do subúrbio da central foi a pioneira
E...
Um trem de luxo parte
Para exaltar a sua arte
Que encantou Madureira
Mesmo com o palco apagado
Apoteose é o infinito
Continua estrela
Brilhando no céu
Brasil nas Veias
Délcio Carvalho e Paulo Cesar Feital
Dizem que Jesus tem o Brasil nas veias
Quando Clementina chega diz: Vadeia
Mandou mestre Ismael, armar com Gabriel
Um desfile a altura da Sapucaí no céu
São Pedro vai sair de Xangô
São Jorge vem de Beira Mar
São Roque desce de Atoto
Na Escola Unidos de Oxalá
Ontem mesmo já mandou chamar
Candeia
Quero no Camarote a nova Santa Ceia
Tem muqueca e mucunzá
Feijoada e vatapá
Leite com dendê , pra santo nenhum reclamar
Tem tucupi vai ter tacaca, amendoim, abara
Tem tipiti pra se regalar no camarote de Oxalá
Dizem que Maria é Iemanjá , Sereia
Que na fantasia traz a lua cheia
Na ala da manhã de Nanã
E a porta-bandeira é Barbara de Iansã
São Pedro vai sair de Xangô...
Tá Valendo
Paulo Cesar Feital e Altay Veloso
Tá valendo acordar, quando o galo cantar
Tá valendo lutar todo dia
Tá valendo chorar, tá valendo cantar
Quando a lágrima tem poesia
Se isso vale pra mim
Que dirá pra você
E melhor dividir, vamos brigar pra que?
Abre o coração, assim como Maria
Abriu as portas da santa carpintaria
Abre a oficina da paixão do nosso amor
E melhor gemer de amor
E depois ir trabalhar
Pois quem não conhecer a dor
Não serve pra vadiar
Tem Mais Samba
Chico Buarque
Tem mais samba no encontro que na espera
Tem mais samba a maldade que a ferida
Tem mais samba no porto que na vela
Tem mais samba o perdão que a despedida
Tem mais samba na mão do que nos olhos
Tem mais samba no chão do que na lua
Tem mais samba no homem que trabalha
Tem mais samba no som que vem da rua
Tem mais samba no peito de quem chora
Tem mais samba no pranto de quem vê
Que o bom samba não tem lugar nem hora
Coração implora samba sem querer
Vem que passa teu sofrer
Se todo mundo sambasse seria tão fácil viver
Sentimentos
Mijinha
Sentimento
Em meu peito eu tenho demais
Alegria que eu tinha nunca mais
Depois daquele dia
Em que eu fui sabedor
Que a mulher que eu mais amava
Nunca me teve amor
Hoje ela pensa que estou apaixonado
Mas é mentira está dando
O golpe errado
Agora estou resolvido
A não amar a mais ninguém
Porque sem ser amado não convém
Casa Colonial
Jorge Aragão e Paulo Cesar Feital
Bate tambor minha nação
Samba, jongo, caxambú
E no quintal do coração
Brilha o Cruzeiro do Sul
É geral impressão de desolação
Essa casa colonial
A lixeira cultural
Filial do Tio San
Sei que meu povo é capaz
De reformar a mansão
Que é de meu pai, e de meu avô...
De reforçar os portais
Que a ambição não desmoronou...
E quando tudo acabar
Quero escrever na fachada
És pátria amada do meu amor
Nas escadas imperiais
Vai haver inundação
Nos recantos nacionais
Bate tambor minha nação
Samba, jongo, caxambú
E no quintal do coração
Brilha o Cruzeiro do Sul
(se o olhar)
Se o olhar derramar toda a comoção
É geral
Era Carnaval
Délcio Carvalho e Jorge Simas
Era carnaval, o samba na avenida principal
Muito alvoroço no coração
Quanta alegria, tanta emoção
Era carnaval e eu era mais um na multidão
Tentando entender o que sofri
Usando a fantasia resisti
Mas você sorriu tão de repente assim
Algo como fogo se apossou de mim
Você num passado enterrado se razão
Olhou nos meus olhos
Pegou minha mão
E na ansiã louca da folia então
Nos tornamos um nas ondas do cordão
O amor foi demais, a chama voltou
E nem quarta-feira de cinzas apagou
Vã Filosofia
Paulo Cesar Feital e Altay Veloso
Não se ensina liberdade
Com paixão e piedade
O amor e falsidade
Nem a verdade a alguém
Não a universidade
Que possa dar claridade
Nota em dez em santidade
É coisa pra coisa pra quase ninguém
Tô falando minha comadre
Vida de adversidade
Verdadeira faculdade
Que dá diploma pra alguém
Não se aprende a ter amor nas escolas da cidade
Quem tiver boa vontade têm
Que não aprendeu com a dor
Tem a possibilidade
De ver trevas até onde não tem
Sofri como ninguém
Você deve lembrar
Eu rastejei pra você não deixar meu lar
E agora você vem pedindo pra voltar
A regra três hoje tornou-se a titular
Regra três que era pura fantasia
Era vã filosofia
Só para me escravizar
Como um pensamento cria
Você a criou um dia
E ela que não existia
A voz está no meu lar
Tô falando minha tia
Te faltou sabedoria
O que você fez um dia
Não dá camisa a ng
Não se aprende a ter amor
Nas escolas da cidade
Quem tiver boa vontade tem
Quem não aprendeu com a dor
Tem a possibilidade de ver trevas até onde não tem
Eu Canto Samba
Paulinho da Viola
Eu canto samba
Por que só assim eu me sinto contente
Eu vou ao samba
Porque longe dele eu não posso viver
Com ele eu tenho de fato uma velha intimidade
Se fico sozinho ele vem me socorrer
Há muito tempo eu escuto esse papo furado
Dizendo que o samba acabou
Só se foi quando o dia clareou
O samba é alegria
Falando coisas da gente
Se você anda tristonho
No samba fica contente
Segure o choro criança
Vou te fazer um carinho
Levando um samba de leve
Nas cordas do meu cavaquinho